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terça-feira, 24 de maio de 2011

TROVADORISMO

Introdução

A Idade Média é um dos períodos históricos mais interessantes de que se tem registro. Encontram-se nela os registros da Europa medieval, e que marcaram grandemente a história da civilização humana. Registros instigantes e controversos, como o período em que a Igreja proibia, com grande vigor, os estudos de anatomia (e, também, de pensamento, daí originando um “apelido” a este período de Idade das Trevas).
É na Idade Média que as primeiras manifestações literárias em língua portuguesa começam a ocorrer. Nessas manifestações, ainda num português mais arcaico e sob a influência do galego-português (dada a união ainda existente de Portugal e Galiza), é que se reproduz a literatura trovadoresca (cujo surgimento literário se dá em 1189 ou 1198, quando Paio Soares de Taveirós escreve a Cantiga da Garvaia, dedicando-a a Maria Pais Ribeiro).

Trovadorismo

As primeiras décadas desta época transcorrem durante a guerra da reconquista do solo português ainda em parte sob domínio mouro, cujo derradeiro ato se desenrola em 1249, quando Afonso III se apodera de Albufeira, Faro, Loulé, Aljezur e Porches, no extremo sul do País, batendo definitivamente os últimos baluartes sarracenos em Portugual. […] a atividade literária beneficiou-se de condições propícias e pôde desenvolver-se normalmente. Cessada a contingência bélica, observa-se o recrudescimento das manifestações sociais típicas dos períodos de paz e tranquilidade ociosa, entre as quais a literatura.
(Moisés, A Literatura Portuguesa, 2006)

O trecho acima, retirado de A Literatura Portuguesa, mostra-nos um pouco do que aconteceu em Portugal nos primórdios de sua literatura. Esse período, marcado pelas Cruzadas da Idade Média, trouxe características, no mínimo, interessantes à literatura lusitana, com grande teor lírico que, ao longo dos anos, toma forma e espalhado-se por todo o território, trazendo, além do lirismo, o saudosismo português – de maneira mais consolidada futuramente (muito observado no Classicismo por Camões, sendo este, de certa maneira, alvo de crítica pelo autor em Os Lusíadas). Mas erra quem pensar que as manifestações literárias se iniciam somente com o passar da guerra, pois mesmo antes é possível se ver as manifestações literárias.
Esse movimento literário é um tanto complexo, embora sua estrutura poética e formal seja simples. Essa complexidade se dá, por exemplo, porque se admitem quatro possíveis causas de surgimento do movimento (Moisés, A Literatura Portuguesa, 2006), são o que Massaud chama de quatro teses fundamentais: 1. tese arábica – essa tese considera a raiz dessa escola literária a cultura arábica; 2. tese folclórica – segundo esse pensamento, o Trovadorismo teria sido criado pelo povo, sendo sua manifestação cultural; 3. tese médio-latinista – Segundo essa teoria, o Trovadorismo teria surgido das manifestações literárias e cultura latinas da Idade Média; e 4. tese litúrgica – que prega que essa escola tenha surgido das poesias litúrgico-cristãs. Assim, segundo Massaud, faz-se necessário apoiar-se em todas essas teses para melhor explicar o surgimento do Trovadorismo em Portugal. Contudo, o que se sabe com exatidão, é que essa manifestação “lítero-cultural” é proveniente das poesias medievais.
Presume-se, assim, que esta escola literária teria surgido em Provença (tese mais bem sustentada), uma região da França. No século XI, essa região tem grande atividade lírica. Com o advento das Cruzadas, muitos teriam ido à região de Lisboa para embarcar com destino a Jerusalém. Como consequência, muitos desses poetas teriam introduzido a nova forma poética em solo português.

O Trovadorismo em Portugal

Não se sabe precisamente se a datação tem início em 1198 ou 1189, isso porque seriam as datas presumíveis da publicação da canção A Ribeirinha ou Cantiga de Garvaia – Cantiga de Amor escrita por Paio Soares de Taveirós. Essa Cantiga de Amor fora dedicada a Maria Pais Ribeiro. O movimento finda-se somente dois séculos depois, quando Fernão Lopes é nomeado guarda-mor da Torre do Tombo, inaugurando, assim, o Humanismo (1418).
A poesia trovadoresca se divide em cantigas, que podem ser: de Amor, de Escárnio, de Amigo e de Mal-dizer. É importante frisar que ainda não há uma identidade portuguesa bem estabelecida, isso porque ainda há, ao menos nos primórdios, o domínio mouro em uma parte territorial de do País (objeto da luta dita no trecho inicial retirado do livro de Massaud). Com o tempo, a literatura vai se consolidando e isso faz com que a identidade portuguesa cresça, gerando a maturidade literária que hoje conhecemos. Graças a isso, pode-se observar, no Trovadorismo português, o galego-português, em virtude da unidade lingüística entre Portugal e Galiza.

A poesia trovadoresca e suas características

A poesia trovadoresca tem íntima relação com a música, já que era acompanhada sempre por instrumentos como alaúde, viola e flauta – ou, ainda, simplesmente cantada quando não havia instrumentos acompanhando o trovador.
Essa poesia se divide basicamente em dois grupos: lírico e satírico. Quando se pensa em composição trovadoresca lírica, automaticamente deve vir à mente as cantigas de Amigo e de Amor; já quando essa poesia é satírica, deve-se lembrar das cantigas de Escárnio e Maldizer.

                      I.      Cantigas de Amor

As cantigas de Amor tematiza a confissão amorosa do homem em relação a uma mulher, geralmente lamentando o seu sofrimento de amor (coita) diante da indiferença da mesma (Editora COC, 2009). Com isso, pode-se afirmar que o eu-lírico é masculino. Essa relação estabelecida entre a amada e o eu-lírico caracterizam o amor cortês (que nada mais é do que o amor ditado pelas regras sociais e culturais da época, respeitando os costumes e jamais dando o real nome da amada – para isso, o trovador utilizava pseudônimos para que a identidade da amada fosse resguardada), ainda havendo uma idealização platônica desta mulher. Ela é endeusada por este homem, que se põe num patamar bem inferior ao dela. Poderemos, ao longo da literatura, enxergar isso claramente noutros movimentos literários, principalmente os que se ligam aos sentimentos humanos.
Essas cantigas traziam nas suas entrelinhas o que comumente chamamos de amor platônico, aquele em que o homem se põe num patamar inferior ao de sua amada, tornando-a inalcançável a ele. E é justamente isso que encontramos nas Cantigas de Amor. Veja:

A dona que eu am’e tenho por senhor
Amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for
      se non dade-me-a morte

A que tenh’eu por lume dêstes olhos meus
e por que choram sempre amostrade-me-a ver,
      se non dade-me-a morte.

Essa que Vós fizestes melhor parecer
de quantas sei, ai Deus, fazede-me-a ver
      se non dade-me-a morte.

Ai Deus, que me-a fizestes mais Ca mim amar,
mostrade-me-a u possa com ela falar
      se non dade-me-a morte
(Bernal de Bonaval, in Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa através dos Textos, p. 423)




                    II.      Cantigas de Amigo

Ao contrário das cantigas de amor, as Cantigas de Amigo não tratam do sofrimento do homem, mas sim da mulher; é o outro lado da relação amorosa: o fulcro do poema agora é representado pelo sofrimento amoroso da mulher, via de regra pertencente às classes populares (pastoras, camponesas, etc.) - (Moisés, A Literatura Portuguesa, 2006). Essas cantigas trazem consigo a dor e o desgosto (como muito bem ressalta Massaud Moisés) do amar e ser abandonada. Devemos lembrar que estamos na Idade Média, época em que Portugal (e outras nações) estão vivendo o período das Cruzadas, e em particular, o povo lusitano também está em luta por parte de seu território, daí a dor do amar e ser abandonada, pois elas perdem seus homens para a guerra.
O drama vivenciado por essa mulher é trazido pelo trovador, ou seja, pelo homem, observando-se que: 1) pode ser ele precisamente o homem com quem a moça vive sua história (neste caso, o trovador conhece a sua dor de forma íntima, é quem melhor conhece sua dor); 2) por ser a jovem analfabeta, como acontecia mesmo às fidalgas - (Moisés, A Literatura Portuguesa, 2006).
É possível perceber que o trovador vive o que se chama de dualidade amorosa, podendo extrair autenticamente os dois tipos observados na experiência passional (lembrando que sempre será trazido em primeira pessoa – singular ou plural). Assim, ele se expressa como agente amoroso que padecerá pelo amor não correspondido (incorrespondência), e como se esse trovador fosse tomado pela personificação dessa mulher, de maneira que passa a fazer suas falas, mostrando como essa mulher se apaixona por ele desgraçadamente. O interessante nessa ambigüidade é que não existia antes do Trovadorismo e jamais se repetiu depois.
Percebe-se com tudo isso, que a voz feminina se ergue, confessando sua dor à mãe, às amigas, aos pássaros, aos arvoredos, e o conteúdo dessa confissão se dá pela incompreensão dessa paixão (ou, ainda, pela intransitividade dessa paixão). Com isso, podem-se verificar alguns pontos divergentes dentro desse universo das Cantigas líricas: as cantigas de amor são mais idealistas, e as de amigo são mais realistas; o homem é mais D. Juan nas cantigas de amigo, enquanto que nas cantigas de amor ele se mostra mais passional e mais aberto ao que sente em relação à sua amada (é como se ele não fosse um conquistador, mas como se ele quisesse viver essa paixão); quanto à estrutura textual, as cantigas de amor tem feições mais analíticas e discursivas, enquanto as de amigo, por sua vez, traz um caráter mais narrativo e descritivo. Apesar disso, um ponto é comum em ambos: o platonismo.

– Ai flôres, ai, flôres do verde pino,
Se sabedes novas do meu amigo?
               Ai, Deus, e u é?

Ai flôres, ai, flôres do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
               Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel  que mentiu do pôs comigo?
               Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi á jurado?
               Ai, Deus, e u é?

– Vós me perguntades pelo voss’amigo?
E eu bem vos digo que é san’e vivo:
               Ai, Deus, e u é?

(J. J. Nunes, in Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa através dos textos, p. 26)




                   III.      Cantigas de Escárnio e de Maldizer

As Cantigas de Escárnio e de Maldizer são bem diferentes das cantigas líricas. Como os próprios nomes sugerem, elas dão a ideia de sátira, piadas, escárnio, construindo-se por meio da ironia, do sarcasmo, usando palavras com duplo sentido, podendo conter algo direto (palavras e/ou ideias). Um bom exemplo, somente para ilustrar (e aproximar como seriam as cantigas de escárnio e de maldizer – e, se fossem reproduzidas com fundo musical, até poderia se transformar em trovas), embora não o façam na forma de cantigas, é o humorístico Casseta & Planeta (Rede Globo de televisão), que satirizava (às vezes de maneira bem direta) a política e acontecimentos do mundo.
Contudo, enganam-se os que pensam que essas cantigas são idênticas. Há uma distinção entre elas. As Cantigas de Escárnio são construídas de maneira indireta, com uso de ironia, um toque de sarcasmo, ou seja, um tanto maqueada; diferentemente das Cantigas de Maldizer, que trazem em suas linhas um conteúdo direto, descobertante, “tocando na ferida”.
Quanto à linguagem, nessas cantigas se podem observar o uso de um vocabulário mais torpe, havendo palavras de baixo-calão. Era uma poesia entendida como “maldita”, descambando para a pornografia ou o mau gosto, como bem cita Massaud.
Essa forma de escrever documenta alguns dos costumes e dos meios populares da Idade Média, como um flagrante de uma reportagem viva.

A Idade Média

Marcada por uma série de considerações preconceituosas, a Idade Média compreende o período que parte da queda do Império Romano, até o surgimento do movimento renascentista. Longe de ser a chamada “idade das trevas”, esse período histórico possui uma diversidade que não se encerra no predomínio das concepções religiosas em detrimento da busca pelo conhecimento. É durante o período medieval que se estabelece a complexa fusão de valores culturais romanos e germânicos. Ao mesmo tempo, é nesse período que vemos a formação do Império Bizantino, da expansão dos árabes e o surgimento das primeiras universidades.
(por Rainer Souza, in: http://www.brasilescola.com/historiag/idade-media.htm)

A Idade Média é um dos períodos históricos mais conturbados que já se ouviu falar. Ela é marcada por muitas e intensas batalhas, conhecidas como Cruzadas. Além disso, é nesse período da História que há o feudalismo, a inquisição, entre outros grandes marcos da história mundial.

As Cruzadas

Entre 1096 e 1270, pelo comando da Igreja, muitas expedições são enviadas a Jerusalém, que se encontrava dominada pelos turcos seldjúcitas. Essas expedições tinham fim a retomada de Jerusalém para reunificar o mundo cristão, dividido, devido a esse domínio, pelo Cisma do Oriente.
Jerusalém vive um momento conturbado, pois, antes, com o domínio árabe (anterior ao dos turcos), os cristãos tinham a entrada livre na cidade. Porém, quando os turcos seldjúcitas tomam a Cidade-santa, os cristãos passam a ser proibidos de entrar nela. Isso ocorreu porque esses turcos eram convertidos ao islamismo.
Dado esse cenário, em 1095, o papa Urbano II convoca algumas expedições com o intuito de retomar Jerusalém, tendo início, mais tarde, as Cruzadas, que recebe este nome porque os cruzados (guerreiros que foram à batalha) levavam consigo o símbolo do cristianismo, a cruz, estampada em suas vestimentas.
Mas se engana quem pensa que a motivação era apenas religiosa. Como a Europa experimentava um momento de crescimento, os senhores feudais passaram a se interessar pela expansão territorial, de maneira que eles ganhariam com isso; lembrando que a Europa, neste episódio, já vive um processo mercantilista.

A Igreja não era a única interessada no êxito dessas expedições: a nobreza feudal tinha interesse na conquista de novas terras; cidades mercantilistas como Veneza e Gênova deslumbravam com a possibilidade de ampliar seus negócios até o Oriente e todos estavam interessados nas especiarias orientais, pelo seu alto valor, como: pimenta-do-reino, cravo, noz-moscada, canela e outros. Movidas pela fé e pela ambição, entre os séculos XI e XIII, partiram para o Oriente [e iniciaram as cruzadas, que foram, ao todo,] oito Cruzadas.

Com esse ritmo, muitos passaram por Lisboa e, com isso, contribuíram para a Literatura e outras manifestações artístico-culturais da região.

As consequências das Cruzadas

Como qualquer ação gera uma reação (um dos princípios básicos observados pela ciência, e muito disseminados pela química e física), os fatos históricos também geram suas consequências. As Cruzadas, ainda que motivadas por interesses financeiros – lembrando que a ideia de financeiro não se limita ao dinheiro, mas ao domínio –, darão uma grande contribuição à história mundial.
Num primeiro momento, os Cruzados conseguem retomar o domínio de Jerusalém, porém, devido às sucessivas batalhas, esse domínio se torna temporário. Mas, apesar disso, os sucessivos saques promovidos no Oriente darão sua contribuição à Europa, pois isso permitiu que uma grande quantidade de moeda entrasse no regime feudal, propiciando aos comerciantes a criação de companhias de comércio (ainda num ritmo de mercantilização inical, bem diferente do que estamos habituados em nossos dias). Além desse processo mercantil, o regime feudal passa a entrar em colapso, sendo, mais tarde, transformado.


Os senhores feudais, interessados pelas mercadorias que vinham do mundo oriental, reorganizaram o modelo de produção de suas terras buscando excedentes que pudessem sustentar esse novo padrão de consumo. Além disso, a estrutura rígida do sistema servil cedeu espaço para o arrendamento de terras e a saída de servos atraídos pelo novo modo de vida existente nos espaços urbanos revitalizados. Assim, o feudalismo dava os primeiros indícios de sua crise.
(por: Rainer Souza, in: http://www.brasilescola.com/historiag/cruzada-movimentos.htm)


Dadas essas novas circunstâncias, o processo de mercantilização cresce, bem como todo o pensamento da época. Outra grande contribuição foi a ampliação da tecnologia marítima (que, por um momento muito expressivo na história mundial, deu a Portugal as ferramentas para a descoberta do Brasil e da rota às Índias).

Conclusão

De acordo com o que se observou ao longo deste trabalho monográfico, percebeu-se, além de tudo, a grande contribuição dada pelas Cruzadas à Literatura Portuguesa, que, dentre as teses de sua sustentação, dita que o seu surgimento se dá neste processo, uma vez que o Trovadorismo tenha sido originado de Provença (França) e, mais tarde, tenha se disseminado pela situação vivida pela Europa.
É importante lembrar que essa estrutura literária cresceu, amadurecendo em Portugal de maneira que, mais tarde, com o intuito de não se perder tais registros, os trovadores passam a escrever suas composições, dando, desta maneira, a forma concreta à literatura.

Bibliografia

Editora COC. (2009). Língua Portuguesa 3 - Literatura Colonial. Ribeirão Preto: COC.

Júnior, D. (s.d.). Brasil Escola. Acesso em 09 de abril de 2011, disponível em Brasil Escola: http://www.brasilescola.com/historiag/cruzadas.htm

Moisés, M. (2006). A Literatura Portuguesa (34ª ed. ed.). São Paulo: Cultrix.

Moisés, M. (1972). A Literatura Portuguesa Através dos Textos (5ª ed.). São Paulo: Cultrix.

Souza, R. (s.d.). Brasil Escola. Acesso em 09 de abril de 2011, disponível em Brasil Escola: http://www.brasilescola.com/historiag/cruzada-movimentos.htm

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